De cada 100 brasileiros submetidos a cirurgias plásticas no Brasil, 15% têm idade entre 14 e 18 anos, segundo estatísticas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Insatisfeitos com o próprio rosto ou corpo, e sentindo-se inseguros com as mudanças corporais e psicológicas que atravessam, cada vez mais jovens procuram os consultórios dos cirurgiões. O número saltou de 5 mil cirurgias realizadas, em 1994, para 30 mil apenas cinco anos depois. Em 2005, o aumento foi ainda mais acentuado: foram 97,5 mil cirurgias nesta na faixa etária. Mas o que esses números representam, afinal? E como um pai ou mãe devem agir, se um filho insistir em se submeter a uma plástica que lhe pareça precipitada ou desnecessária?
A adolescência é uma fase de busca de identidade, referências e, principalmente, aceitação social. Assemelhar-se a alguém admirado, um artista ou esportista, por exemplo, muitas vezes parece o caminho natural para a conquista da admiração dos colegas. A mídia dissemina um padrão de beleza inatingível pela maior parte das pessoas, e os jovens sofrem quando não se enquadram nele. Nas novelas, nas revistas e nos filmes, as mulheres precisam ser magras, muito magras, ter seios fartos e cabelos lisos, de preferência louros. Os homens devem ser altos e atléticos, de traços marcantes, porém delicados.
Na busca por uma aparência idealizada, muitos jovens chegam a se impor comportamentos de risco, como regimes severos ou excesso de exercícios físicos. Seios pequenos ou acima do padrão podem ser motivo de forte vergonha ou má postura. Um nariz mais avantajado torna-se justificativa para o isolamento social. É o que relatam dezenas de pais. “Minha filha não põe biquíni”; “A caçula diz que se parece com uma tábua, que nunca vai arranjar namorado”; “Meu filho se acha horroroso, atualmente pouco sai de casa”, são falas recorrentes. Entre as moças, os problemas costumam ser ainda mais freqüentes que entre os rapazes.
Preocupados com os filhos, muitos acabam cedendo aos insistentes pedidos para procurar ajuda dos cirurgiões plásticos, mesmo quando não concordam com as queixas apresentadas. Têm a esperança de que, depois da cirurgia, as coisas melhorem. Em casos bem indicados isso de fato ocorre, ou seja, a cirurgia plástica pode trazer benefícios tanto do ponto de vista físico quanto psicológico. Um caso clássico em que a imagem do jovem ou até da criança podem provocar desajustamento social é o das orelhas de abano – problema solucionado com uma cirurgia simples que pode ser realizada a partir dos 6 anos de idade. Há também os casos de correção de hipertrofia mamária, mamas grandes e desproporcionais que, além de inestéticas, comprometem a postura e podem interferir no aspecto psicossocial. Essa cirurgia pode ser realizada aos 16, 17 anos – quando o desenvolvimento das mamas está completo. Podemos citar ainda o aumento de mamas em adolescentes masculinos, conhecido como ginecomastia, cujo tratamento cirúrgico traz imensos benefícios.
Na mão inversa, não são indicadas lipoaspirações em pacientes acima do peso com o objetivo de emagrecimento – aliás, nem mesmo entre adultos – tampouco intervenções mais radicais na face. Cada caso deve ser analisado individualmente, procurando avaliar quando a queixa do jovem parece associada a algum distúrbio de imagem ou é despropositada, e quando de fato representa um problema real. Em casos de queixas irreais, é recomendável que a família leve o adolescente para uma avaliação psicológica, e a cirurgia é retardada ou proscrita.
Todo paciente adolescente que trilha o caminho da busca da melhoria de sua imagem deve ser abordado com muito critério. O cirurgião deve estabelecer uma relação em que haja clareza de intenções quanto ao procedimento e estejam descartados modismos e processos de mimetismo de imagem.
A nosso ver, os excessos cometidos em nome da busca de aceitação estão relacionados a um problema que não é individual e sim social, com raízes em comum com doenças como a anorexia e a bulimia, de incidência crescente na atualidade. A questão está relacionada a uma crise de valores dos jovens, numa sociedade que aprendeu a valorizar mais a imagem do que o conteúdo e tem dificuldades para aceitar a beleza das diferenças.
* Cirurgiões plásticos membros titulares da SBCP e autores do livro “Os mistérios da vaidade humana”, a ser lançado pela Qualitymark.
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